segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Entrevista ao www.desporto24.pt

Bruno Saraiva- “Só com um grupo unido se conseguem vitórias”

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bruno_saraiva2Em 2009 fez a sua estreia no profissionalismo e mesmo a rematar o ano conquistou o primeiro triunfo em Elites. Especialista na arte do "sprint", Bruno Saraiva contou ao Desporto24 como foi o primeiro impacto com o novo escalão, como viveu a sua primeira vitória de profissional e que perspectivas acalenta para a temporada que agora arranca.

Entrevista:
Magda Ribeiro

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Aos quatro anos aprendeu a pedalar e aos 15 iniciou-se na competição. Por detrás da resolução estava a apetência pela modalidade, mas também uma paixão que foi crescendo, ano após ano, pelo ciclismo. Aos 24 anos, e com uma carreira construída pedalada após pedalada, Bruno Saraiva encara a segunda temporada ao mais alto nível com optimismo, mas sempre com os pés bem assentes na terra.
O 5.º lugar na Prova de Abertura augura boas perspectivas para uma nova época em que a bicicleta continuará a ser a fiel amiga na hora de digladiar os momentos finais de cada etapa ao "sprint".

Desporto 24: Que balanço faz do seu primeiro ano enquanto profissional? Que lições retirou do ano de estreia ao mais alto nível?
Bruno Saraiva: Inicialmente não tive qualquer tipo de pressão. O objectivo passava por me adaptar ao escalão e por ajudar a equipa sempre que pudesse, indo assim de encontro aos objectivos da CC. Loulé/Aquashow. Foi essa forma de encarar as competições que me valeu o “passaporte” para a Volta a Portugal, sem dúvida a melhor experiência desportiva que tive. Tive a percepção que só com um grupo unido se conseguem vitórias. O exemplo disso foi que, depois da adaptação à equipa e a todos os elementos, as vitórias chegaram naturalmente.

D24: Como viveu o seu primeiro triunfo enquanto profissional?
B.S.:
Foi gratificante fechar a época da melhor forma. Aliás, todo o conjunto esteve bastante bem nas últimas competições. A corrida que venci foi nos arredores de Paris, numa localidade com muitos emigrantes portugueses, que vibraram tanto com o triunfo quanto nós.

D24: A nível de postura em cima da bicicleta, quais são as principais diferenças entre correr no escalão de Sub-23 e no pelotão de Elites?bruno_saraiva1
B.S.:
Obviamente a quilometragem e o ritmo são diferentes, apesar de nos sub-23 as corridas serem mais abertas e atacadas. No escalão de Elite corre-se muito rápido a 1.ª hora de prova, normalmente até haver uma fuga. Depois o ritmo acalma, para se fazer a fase final sempre a grande ritmo.

D24: Foi alvo de alguma praxe no 1.º ano como profissional?
B.S.:
Apesar de algumas ameaças no seio do grupo para que isso acontecesse, tal nunca chegou a ocorrer.

“(Em 2010) Espero estar a um grande nível e que as vitórias surjam naturalmente”

D24: Que expectativas acalenta para a temporada de 2010?
B.S.:
Depois do ano de 2009 ter servido para me adaptar a um novo escalão, o objectivo para esta temporada passa por estar na disputa dos lugares cimeiros nas etapas ao sprint. Quero começar a impor-me, de forma a me tornar um bom sprinter.

D24: Quais serão os pontos do calendário que vai atacar com mais força?
B.S.:
Normalmente entro bem no início da época e como a maioria das competições nesta altura são propícias a chegadas compactas, vou tentar aproveitá-las da melhor maneira.

D24: Pensa que, a nível nacional, as vitórias poderão surgir já em 2010?
B.S.:
Trabalhei bastante na pré-época, por isso espero estar a um grande nível e que as vitórias surjam naturalmente já este ano, pois, como tenho dito, quero melhorar e impor-me aos poucos.

D24: Pensa que a saída do Manuel Cardoso para o estrangeiro aumenta as suas hipóteses de poder começar a somar triunfos?
B.S.:
O Manuel é o ciclista nacional mais veloz da actualidade. Penso que todos os outros sprinters logicamente vão beneficiar disso. Espero ser um deles.

Os objectivos da equipa

D24: Como define o plantel da CC Loulé/Aquashow? Quais são os principais objectivos da equipa?
B.S.:
A equipa reforçou-se muito, principalmente na alta montanha. Sei que os elementos escolhidos – e porque os conheço – não só vêm pelas suas qualidades e pela melhoria de valor que podem dar à equipa na estrada, mas também pela sua parte humana. É muito importante que continue um grupo unido e forte para atingir todos os objectivos.

bruno_saraiva3D24: Depois da excelente prestação do João Cabreira na Volta a Portugal do ano passado, este ano a equipa acredita poder chegar à vitória na prova?
B.S.:
Claro que sim. Esse é certamente o principal objectivo da nossa formação, algo muito fácil de perceber ao constatarmos as novas contratações, principalmente com a entrada do Zaballa e do Santi, que darão uma grande ajuda ao João (n.r. Cabreira).

D24: O Jorge Piedade é uma pessoa com quem se aconselha muito?
B.S.:
O Jorge é uma pessoa muito acessível, que se preocupa com os seus ciclistas. Ouve-os, aconselha-os e ajuda no que pode.

“Nunca tinha visto um pelotão tão reduzido…Quem mais sofre somos nós”

D24: Como analisa o facto de o pelotão português unicamente comportar cinco equipas?
B.S.:
Parece que a crise é a desculpa para tudo, e agora não é excepção. As empresas têm algum medo de investir e sem isso as equipas não surgem. Nunca tinha visto um pelotão tão reduzido…Quem mais sofre somos nós. Os lugares para os ciclistas são poucos e há que dar sempre o nosso melhor, para demonstrar que merecemos aquele lugar. Desejo profundamente que esta situação melhore, pois, caso contrário, poderá ser o fim do ciclismo profissional em Portugal.

D24: Concorda com o facto de, este ano, haver a possibilidade de uma Selecção de Sub-23 marcar presença na Volta a Portugal?
B.S.:
As regras admitem isso. Na minha humilde opinião a Volta a Portugal é uma competição de elevadíssima dureza. Eu sei que existem jovens valores em grandes equipas mundiais, mas uma coisa será um jovem fazer uma Volta pela equipa que representa e outra coisa é uma Volta ser corrida por uma equipa jovem, que certamente virá sem grandes ambições.

D24: Na actualidade verifica-se um acréscimo de ciclistas lusos a militarem no pelotão internacional. Esse também é um objectivo que acalenta a curto/médio prazo?
B.S.:
Penso que esse é o pensamento de qualquer jovem ciclista. Pessoalmente, a curto prazo, quero muito começar a impor-me nas chegadas massivas e ser um nome a ter em conta. Já a médio prazo tenho o sonho de alinhar numa equipa que me permita participar nas grandes Clássicas da Primavera.

D24: Como vê os mais recentes casos de doping que têm abalado a modalidade?
B.S.:
Tudo que sirva para denegrir a imagem do ciclismo é lamentável.

A vocação…e ídolos

D24: Para se ser sprinter tem de se ter alguma loucura. Partilha desta ideia?
B.S.:
Para se ser ciclista já se tem de o ser, mas nos sprinters a adrenalina toma conta do momento, fazendo com que sejamos comandados instintivamente nos momentos finais a alta velocidade.

D24: Tem algum ídolo na modalidade? Se sim, qual é o seu maior ídolo a nível nacional e internacional?
B.S.:
Admiro o Cândido Barbosa pelas suas qualidades. A nível internacional, e apesar de já não ter corrido em 2009, o ciclista que mais gostei de ver correr foi o Paolo Bettini.

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